A grande dificuldade de estudar a biologia do autismo, ou outras doenças que afetam o sistema nervoso, é a falta de acesso às células do SNC. Com a descoberta do método para produção de células-tronco pluripotentes induzidas (induced pluripotent stem cells – iPSC) em 2006/2007 hoje é possível modelar doenças utilizando células de um paciente específico para produzir células do SNC e, assim realizar estudos que ajudam a elucidar os mecanismos da doença, preservando a genética do paciente, o que só seria possível por biópsia do tecido cerebral, ou seja, um procedimento inviável.
Para entender como funciona o Projeto A Fada do Dente, antes é preciso compreender o processo de reprogramação celular para a obtenção das iPSC. A reprogramação celular trata-se de uma técnica de engenharia genética combinada com biologia celular que faz com que células especializadas e diferenciadas se tornem novamente indiferenciadas, ou seja, elas voltam no tempo em que eram células embrionárias, provenientes do processo de fecundação, se tornando assim células pluripotentes, isso é, células que podem se transformar em qualquer célula do corpo, inclusive em neurônios funcionais.
No Projeto A Fada do Dente utilizamos a polpa do dente de leite, “recheio do dente” para obter as células-tronco que são utilizadas para a produção das iPSC. Depois disso, produzimos células do sistema nervoso (neurônios, astrócitos, etc.) e mini-cérebros que são usados para estudar os mecanismos biológicos envolvidos no autismo. Este tipo de estudo se chama“modelagem de doença”, isto é, produzimos um modelo para estudar determinada patologia e ao mesmo tempo criamos uma plataforma para testar medicamentos in vitro, com objetivo encontrar maneiras de melhorar os sintomas clínicos.